Monday, February 11, 2013

Inauguração de Tarumã em Viamão



Em revistas de automobilismo de um longínquo 1965 já se falava na inauguração do autódromo de Tarumã. O do Rio Grande do Sul. Nas de 1967, já se mostravam obras em estado preliminar. Enquanto isso, o automobilismo gaúcho, que sempre fora muito pujante desde os anos 30, morria uma lenta morte. A população brasileira crescera muito nos últimos 30 anos, e fechar estradas para realizar corridas não era coisa de mais sensata aos olhos das autoridades. Não é coincidência que estivessemos no auge da ditadura militar, que desencorajava coisas que não fossem 'sensatas'. O automobilismo ainda era uma 'atividade de doidos endinheirados', sob a ótica das autoridades, ótica esta que viria a mudar durante um breve período após a vitória de Emerson Fittipaldi, campeão de F-1 em 1972 até o cancelamento das corridas no País pelos militares em 1976. Junte-se a isto o anacronismo das carreteras, que abrilhantavam o automobilismo sulino de outrora, e estavam presentes os elementos para que desaparecesse o esporte que tanto sucesso fez no sul. A menos que, de uma vez por todas, ficasse pronto o prometido autódromo.
Isto ocorreu finalmente no finalzinho de 1970, de fato a primeira corrida de monta no estado naquele ano. Foram realizadas diversas provas de carro turismo, que na época já era a categoria mais forte no Estado, e uma Grande Prova, reunindo protótipos e carros de turismo do Rio, São Paulo, Curitiba, Porto Alegre e outras cidades gaúchas. Também foi realizada uma prova de motos para completar o show e saciar a sede dos gauchos.

Instalava-se uma nova era no automobilismo do sul.
~
A primeira prova realizada no autódromo, em 8 de novembro de 1970, foi a Prova Antonio Pegoraro, para carros de turismo de até 1300 cc, batizada em homenagem a um dos líderes do projeto. O Rio Grande do Sul era o único estado que tinha esta categoria, geralmente dominada pelos Corcel. E foi exatamente um Ford Corcel que teve a honra de ganhar a primeira prova no autódromo, pilotado po Decio Michel. Diversos VW 1300 e até mesmo alguns DKW disputaram a prova, sendo que o melhor colocado destes foi o de Francisco Feoli, que mais tarde viria a se destacar na Formula Ford e Formula 2 Brasil.

Na prova cidade de Viamão, para carros de turismo de 1301 a 1600 cc, 24 Fuscas batalharam contra 3 Corcel, e a vitória ficou nas mãos de Fernando Esbroglio, na época muito cotado. O segundo colocado foi o petropolitense Mario Olivetti, que geralmente pilotavas Alfas e ultimamemnte, Porsche, seguido de outro paulista, Ronald Berg, os dois de Fusca.

A terceira corrida foi de carros de turismo de 1601 a 3000 cc, sempre uma categoria com poucos participantes. Esta prova contou com diversos FNM e Simcas que já não eram fabricados desde 1967, mas que eram muito populares no Rio Grande. O paulista Milton Oliveira ganhou a prova, quase na mesma média dos carros da Classe de 1300, seguido de dois Simca e do FNM de Lauro Maurmann, figurinha carimbada das pistas gaúchas nos anos 60. Em sexto, chegou Ivan Iglesias, que viria a morrer em terrível acidente na mesma pista em 1973.

A Prova Tarumã reuniu carros de 3001 a 6000 cc, ou seja Opalas. O favorito de longe era Pedro Victor de Lamare, cujo Opala já dava de falar nas corridas. Ganhou a corrida facilmente seguido de Carlos Alberto Sgarbi, do paranaense Altair Barranco e em quarto, o primeiro gaúcho, Ismael Chaves Barcellos.

A última preliminar foi das motos, e teve um gostinho internacional, devido a presença de diversos pilotos do Uruguai, que outroa frequentemente participavam de provas no estado. De fato, foi o uruguaio Carlos Cirintana que ganhou a prova com uma Suzuki 500.

Na prova principal havia desde dois Malzonis de 1 litro, pilotado pelo fiel Henrique Iwers, até carreteras Corvette e Ford de 5 litros. A prova também marcou a penúltima aparição de Luis Pereira Bueno com o protótipo Bino. Era um dos favoritos, e também o eram Jaime Silva, com o Fúria FNM e Camilo Cristofaro com a última carretera competitiva do Brasil, a Chevrolet 18. Havia algumas poucas carreteas do Sul, notavelmente de Joao Zazique e Rui Menegaz, um protótipo Bi-Motor DKW com Dino di Leone, o protótipo Mirage com Jose Moraes. Reminiscentes de outras eras, dois Simca, um deles o protótipo de Breno Fornari, alguns dos melhores Opalas da classe D, incluindo de Lamare e Barranco, diversos Puma e VW, e um protótipo AC.

A corrida de 40 voltas acabou sendo uma batalha entre Jaime e Luisinho, sendo que Jaime Silva terminou vencedor, na mais importante vitória do Fúria nas pistas. Luisinho chegou 14 segundos depois, seguido do Puma de Freddy Giorgi, com a carretera de Camilo uma volta atrás. O melhor gaúcho foi Antonio Carlos Monteiro, com o AC-VW, seguido de Fernando Esbroglio e de Breno Fornari, vencedor de 3 edições das Mil Milhas nos anos 50.

Estava lançada a sorte, e no ano seguinte Tarumã teria muitas atividades, entre outra coisas, realizando as três únicas corridas do Campeonato Brasileiro de Turismo, diversas provas de F-Ford e protótipos, além de provas internacionais de Formula 3 e Formula 2.

Estava salvo o automobilismo do Rio Grande do Sul.

No comments:

Post a Comment